O princípio de tudo é ímpar, mas a vida, feita de pares.
O mundo se divide entre uns e dois. É duplo. Nada existe, nada está e nada pode sem um par. É par pra tudo.
É o doce e o salgado, o mar e suas ondas, o céu e a terra, o sol e a chuva, o sujo e o limpo, o bom e o ruim, o duro e o mole, o garfo e a faca, a xícara e o pires, o mastro e a bandeira, a pose e a foto, o pulso e o relógio, o tapa e a dor, o beijo e o gosto, a folha e caneta, o lápis e a borracha, a mesa e a cadeira, a cama e o colchão, a noite e o dia, o lado A e o lado B, a Bela e a Fera, o lustre e a lâmpada, a calçada e a rua, o dedo e o anel, o sorriso e o dente, a língua e a fala, o braço e o abraço, a mão e o aperto, o leve e o pesado, o fechado e o aberto, a vida e a morte.
E todo tempo passa sempre com um par para aquele que era ímpar. Não importa o tempo, que, aliás, também tem um par, a distância. Não importa como, se rápido ou demorado, mas existirá, de alguma forma ou sentido, um par para aquilo que, no princípio, era único e sozinho.
Pense na moeda que, de pé, não fica em pé e, deitada, mostra um lado que, por si só, já diz que está lá do outro lado. Seja cara ou coroa, são dois lados de uma mesma moeda, porque tem par. Ela não existe nem tem valor se apenas for dado a ela um único lado, seja um do outro. Ela precisa ser inteira, ainda que deitada. Tudo volta ao princípio. Deitamos ou em pé, de manhã ou de tarde, no almoço ou na janta, um xis ou um cachorro quente, refri ou cerveja, é Coca ou Pepsi, é dando que se recebe a moeda em troca de trabalho.
Tem gente que não acredita, a verdade e a mentira, tem gente que duvida, a dúvida e a certeza, tem gente que aposta, a vitória e a derrota, tem gente pra tudo, os legais e os trouxas. Enfim: tem gente e, se tem gente, também tem par, e o par da gente é aquele ímpar que naquele instante passou tão perto e que antes estava longe, que deu um frio na barriga (e, se deu frio, tem calor), que do nada (e, se tem nada, tem tudo) fez a vida nunca mais ser como era antes (e, se tem antes, tem depois ). Mas o depois agora já tem par, porque a vida é par e não ímpar, diferente da brincadeira de criança, em que só pode ganhar o par ou ímpar.
Na vida, vence o par, seja o par perfeito ou imperfeito, enfim, o amor (porque, se existe amor, existe ódio, mas amor e ódio são tudo na vida). Se existe um, existe outro, se é par ou ímpar, 1, 2 ,3 e já! Dois deu par. Ganhei :))